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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A “não-crise” dos nossos dias...

             Nos anos noventa, exatamente em 1992, o Rev. Caio Fábio lançou um livro que ficou bastante conhecido: A Crise de Ser e de Ter. Quase todo mundo que frequentava alguma comunidade de fé tinha lido e falava sobre o assunto. Ouvi várias mensagens sobre o tema, que pipocava nas rodas de conversa da faculdade, já misturado com o consumismo e a  globalização, e a partir de teóricos não religiosos, mas filósofos, sociólogos, antropólogos e historiadores. O mote era falado todo o tempo – estamos em crise: tratamos as pessoas como coisas e as coisas como pessoas, isso precisa ser revertido! Necessariamente, o livro de Caio Fábio e os escritos que circulavam entre a juventude e a intelectualidade da época respondiam aos anseios de tentar mudar aquela situação.

                A questão é que a situação, para nossa tristeza, não mudou. A crise acabou e vivemos em um mundo de zumbis. Explico-me: segundo a cultura grega, “krisis” ou crise, é o que nos torna humanos, é o que nos faz lutar para viver, é o que nos impulsiona, é o que nos faz perguntar à vida e esperar dela respostas até a próxima pergunta. O hipócrita (hypokrités) é aquele que está abaixo (hypo) da crise (krités), isto é, é o ator de teatro, que usa máscaras, não se mostra verdadeiramente, não se expõe à crise, à vida. Se não existe crise, não existe vida humana. Tornamo-nos qualquer coisa que existe, mas não sabemos mais o que é viver. Infelizmente.


                Enquanto havia a crise de ser e de ter, ficávamos atentos para tratar as pessoas – o ser – como pessoas e as coisas – o ter – como coisas. Conseguíamos ver a diferença. Não éramos como aquele cego em quem Jesus tocou, mas que continuou vendo “homens como árvores” (Marcos 8,22-26). Enquanto havia a crise, aceitavam-se as diferenças entre as pessoas, os relacionamentos se mantinham e os aparelhos eram levados ao conserto. A crise movia a mola da vida e podíamos ver o por do sol junto aos amigos sem ter que saber o que eles tinham a oferecer a nós.
                Nas igrejas, as pessoas deixaram de amar a Deus e cantar louvores por aquilo que Ele é – o Maravilhoso Conselheiro, o Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz (Isaías 9,6). Hoje se “ama” a Deus pelo carro zero, pela casa na praia, pela conta bancária, pelas cem vezes mais que Ele vai dar... o relacionamento com Deus virou barganha e idolatria. O mesmo ocorre com o tipo de “amizade” ou sei lá o quê que foi criado – não se “curte” mais o outro, “curte-se” o que o outro tem a oferecer: vantagens, conhecimento, dinheiro... definitivamente isso nem passa perto do que é amizade. Às vezes eu mesma me canso de um monte de gente que nem sabe meu nome direito, tampouco pergunta se estou bem, mas sabe os dois doutorados que eu curso e acha que sou uma consultoria ambulante pra dar todas as respostas de que necessitem.  
                Jesus percebeu que aquele cego precisava de outro toque para enxergar gente como gente e árvore como árvore. Teve compaixão dele e o tocou novamente. Ainda bem que o cego permitiu e passou a ver distintamente cada coisa. Ali ele passou a viver a crise e entendeu o que é a vida. Meu pedido hoje, caro leitor, é que possamos voltar à crise e entendamos que a vida não é uma sucessão de satisfações de tudo que queremos ter, mas é a satisfação interior de tudo que podemos ser.

Que o Deus que é sendo nos abençoe!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Carpe diem!

Essa semana fui ao cinema participar pelo menos uma vez do Festival do Rio e, como de costume, chorei bicas durante a passagem dos créditos e das pessoas na minha frente que não têm o menor interesse em lê-los. Quase todas as vezes que me exponho à sétima arte, meu coração de manteiga derretida entra em ação, e já aprendi a conviver com a cara de espanto das pessoas na penumbra das salas de cinema.
O interessante é que alguma coisa acontece no meu coração, não no cruzamento mais famoso de São Paulo, cenário há quase dois meses de um grave problema brasileiro – a má distribuição de renda unida à falta de moradia nos grandes centros urbanos. Mas dessa vez, o filme a que assisti me mostrou que tudo à nossa volta é pedra que clama que devemos fazer da nossa vida alguma coisa que demonstre amor a essa gente tão sedenta de justiça e paz no terceiro milênio.

O filme tratava de uma fotógrafa impulsionada pelo desejo de, através de suas fotos, denunciar a maldade, a ganância e a intolerância crescente e latente ao redor do mundo. O sentimento dela por justiça feita àqueles a quem não conhecia, mas amava como gente, era tão belo e profundo, que deixava sua família em suspenso a fim de cumprir sua missão. Fiquei a pensar no que eu tenho feito através de minha profissão e do que tenho a oferecer para ajudar meu próximo... será que tenho deixado família e interesses próprios em favor do Reino de Deus? Tenho entendido o que Deus quer de mim nestes dias tão difíceis?
Dessa vez minhas lágrimas não ficaram no banco do cinema. Elas refrescaram meu rosto e minha mente na direção de fazer alguma coisa. E quero sempre ter a sensação de que tudo que faço ou farei não é nada comparado ao dom da vida – acordar e saber que mais uma vez o amor de Deus se manifestou em graça a cada um de nós, a fim de tornarmos mais um dia O dia! Dia de fazer uma criança sorrir, de ser gentil, de oferecer um café, de emprestar o ouvido, de ajudar a solucionar um problema, de preparar uma cesta básica, de dar um abraço grátis, de visitar o enfermo, o órfão, a viúva, o doído, de viver um evangelho sem palavra, mas recheado de ações...
É urgente o verso de Renato Russo, que certamente foi iluminado pelas palavras e pela consciência do evangelho de Jesus quando ele lia a Bíblia – ‘é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar...’ que a gente não pare, nem pense! Que a gente colha o dia (Carpe diem), aproveitando-o ao máximo, como nos ensinou o poeta latino Horácio (Odes I, 11.8). Que a gente corra e morra sabendo que nossa vida valeu não a pena, mas a confiança que Deus pôs em nossas mãos de sermos gente que ama, gente que tem a estranha mania de ter fé na vida!


No Deus que não se confina em templos, 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Deus na História?

Como alguns sabem, sou professora em uma escola e em um seminário e faço doutorado em Teologia e em História Comparada e, por ‘outros alguns’, já fui várias vezes chamada de doida por conta de gostar tanto de estudar um monte de coisas ao mesmo tempo, de não ter muita vida social e por ter no corpo uma coleção de tendinites... ossos não tão saudáveis do ofício de professor! A despeito do que dizem ou pensam, eu amo as muitas coisas que faço.
O que realmente amo é perceber como não podemos fazer Teologia sem Antropologia, isto é, não podemos entender absolutamente nada a respeito de Deus – o totalmente Outro e imensuravelmente maior do que nós – se não percebemos quem somos nós. Até mesmo as categorias que utilizamos para o ‘corpo’ de Deus são humanas, senão nunca conseguiríamos entender o sentido de várias passagens bíblicas: as narinas, os olhos, a boca, as palmas das mãos, o estrado dos pés, o coração de Deus e por aí se vai, cantamos ‘que os Seus olhos, sempre atentos, permanecem em nós’.
Quanta presunção de nossa parte dizer que conhecemos Deus! Um colega de minha turma de alemão me fez essa pergunta no final da aula da semana passada pra eu responder de supetão: “Você disse que estuda Teologia, né? Então me diga aqui uma coisa: você conhece Deus?” Eu simplesmente dei uma gargalhada característica daquelas que quem me conhece identifica de longe e acho que não vou conseguir responder em Português, imagine em Alemão! Assim como a pergunta ficou no ar naquele fim de tarde na correria pra pegar a condução de volta já prevendo o engarrafamento na saída da ilha do Fundão, a resposta não virá no início da próxima aula. Que me perdoem os doutores e doutorandos de plantão, cruéis com suas respostas prontas, cheias de muletas – nomes e mais nomes de livros e de teóricos, também estes de plantão. Eu não sei a resposta – simples assim.
Deus é alguém que, tanto na Teologia quanto na História, se deixa conhecer. As grandes catedrais não o contêm, tampouco os movimentos de Inquisição ou a incoerência da caça às bruxas que primeiro condenou e depois canonizou, por exemplo, Joana D’Arc. No entanto, a beleza e a nobreza de Deus estão contidas – falo como mulher e com palavras de minha responsabilidade – no sorriso da criança, no amparo ao empobrecido, na luta pelos direitos e pela dignidade humana, no soninho protegido do bebê, na solidariedade a tanta gente que, todos os dias, perde tudo por incêndio, por enchente, por seca, por furacão, por desigualdade social. Assim sim, Deus se dá a conhecer na experiência da vida, no partilhar da História, seja esta Antiga, Medieval, Moderna, Contemporânea ou Comparada, como eu estudo. A grande questão é que eu e você só estamos aqui hoje, vivos, porque sempre existiu gente que fez Deus conhecido em algum gesto de bondade. Gente que talvez nós condenaríamos, gente que achamos – com nossos pré-conceitos – que não conhece Deus.
E hoje estamos diante de um momento no tempo e no espaço muito estranho a cada um de nós. A tecnologia alcançou dimensão tal a ponto de salvar muitas vidas, não obstante a ganância e a intolerância de outras tantas vidas mata, a cada minuto, centenas também de muitas vidas. Se considerarmos um olhar de julgamento ou uma palavra mal colocada ao nosso próximo como arma letal de alto calibre, assim como considera Jesus no Sermão do Monte (Mateus 5,21-22), o número de mortos aumenta vertiginosamente para milhares de vidas. Será que Deus não está em nossa História? Se Ele está e não consigo perceber a ponto de não ser o instrumento que vá fazê-lo conhecido no caminho em que estou trilhando, de nada me adiantam minhas tendinites, meu estudo, meu ofício. Se eu não amar – e fizer alguma coisa para revelar Deus ao caminhante ao meu lado – serei como o sino que soa, mas nada anuncia de bom, ou como o címbalo que retine, mas não leva o alívio de uma boa música ao coração.
Que Deus faça parte da nossa História, seja ela qual for – essa é minha oração de hoje.


No Deus que SEMPRE nos aceita como somos e através de nós se dá a conhecer, 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Amor de eternidade...

Esta semana dois episódios me marcaram bastante acerca da força de uma frase bem feita e bem colocada. Unindo as duas aqui e contando a você, tenho pronto o título destas linhas que vamos começar a construir juntos – eu escrevendo, você lendo. E tomara que possamos, à moda de Umberto Eco, ter aqui uma espécie de ‘obra aberta’, ou seja, que o que eu escreva aqui possa ser discutido, entendido, questionado, ampliado, reescrito, aberto e reaberto em um novo texto, seja oral, seja escrito.


O primeiro fato ocorreu em minhas curtas andanças pelo feed do facebook, quando me deparei com a máxima: “O mundo precisa de loucos; loucos uns pelos outros!”. Apaixonei-me pela criatividade do autor, anônimo, e confesso que gostaria de ter escrito isso. Como estamos aqui para tentar uma, ainda que pequena, obra aberta, façamo-la a partir de então. Assim que li, na mesma hora me veio o texto de 1 João 4,20 à mente, que parafraseio aqui – ‘se alguém diz que ama a Deus, a quem não vê e não ama a seu irmão a quem vê, temos aí um grande mentiroso!’ Logo depois fiquei a imaginar que o evangelho é exatamente essa loucura da paixão de Deus pelo homem – um Deus louco por mim! E o sorriso instantâneo me vem aos lábios em pensar como é profundamente maravilhoso viver e sentir essa paixão do Deus que simplesmente é amor, este que a música popular interpreta muito bem – ‘amor que eu nunca vi igual... amor que não se pede, amor que não se mede, que não se repete, amor...!’

Nesta minha aventura musical, o segundo fato foi o verso de uma canção gospel extremamente poético: ‘Eu sou momento, Deus é eternidade’. Lá retornei eu ao facebook para compartilhar essas duas frases em relação de oposição e  que, sem discussão alguma, apontam juntas fragilidade e efemeridade, verdadeiramente minhas; grandeza e atemporalidade, grandiosamente, de Deus. Ele conhece a minha estrutura e sabe que eu sou pó. Ele conhece todo o universo e ultrapassa o espaço-tempo da física quântica para me dizer todo dia que sua misericórdia não tem fim ainda que eu seja só um momento. Fiz um adendo ao verso: ‘às vezes penso que sou milésimo de segundo’ diante desse ‘tempo divino’: o chamado ‘aoristo’ da gramática grega que eu e o tempo verbal da língua portuguesa não conseguimos alcançar, tampouco entender. Na verdade, o aoristo é um aspecto (e não um tempo!) verbal puro, que não tem início nem fim, não tem limitação temporal – e é ele usado para as ações eternas – como amar – do Deus Pai e de Jesus, o Filho, no Novo Testamento...

O tempo e o amor de Deus são algo que a gente nunca vai compreender. Isto é fato. É, no entanto, obra aberta em nosso coração e em nossa mente porque Ele se permitiu abrir, se permitiu ser lido e interpretado por nós, gente de carne e osso, limitados que somos. Definitivamente, Deus se permitiu habitar conosco e em nós apesar de nós. Isso é momento de eternidade. A única forma que me vêm à mente para encerrar (mas não fechar!) e criar a abertura necessária de nossa conversa hoje, é com música brasileira novamente, iluminada pelo sentimento de Deus por nós ao doar-se e desvelar-se em Jesus: ‘por ser exato, o amor não cabe em si; por ser encantado, o amor revela-se; por ser amor, invade e fim’.   


No Deus que ama eternamente, 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sou mais careta que Deus...


Conversando essa semana no finalzinho de uma reunião de célula dos jovens, ainda sobre o tema que estávamos abordando, ouvi esta constatação que não me pareceu nada estranha naquele momento: “acho que somos mais caretas que Deus”, disse meu querido amigo. Na mesma hora eu exclamei: “vou escrever sobre isso, pode ter certeza!”. E eis o título daquilo que vou tentar esboçar nas linhas que virão...
Interessante perceber algumas ‘teologias cheias de dedos’ que têm surgido em nossos dias e o alto nível de proibições em termos de liturgias de cultos, usos e costumes que só crescem em uma lista interminável. Tudo tentando colocar Deus e sua ação dentro de uma caixinha que nós, homens, fechamos e damos um lacinho. E nisto nos esquecemos de alguns textos que estão contidos na mesma bíblia que é pregada e interpretada pelos amantes das ‘caixinhas da ação de Deus’. Nos termos da carta aos Romanos (14,17), o apóstolo Paulo nos diz que Deus está muito acima de ritos: “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo”. Aos Colossenses (2,21), ele completa afirmando que a santidade e a sabedoria não estão em “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro...”
A bíblia é um livro aberto de Deus e de homens juntos construindo uma relação de amor. Quando a lemos, deveríamos encontrar esse amor, e consequentemente a nós mesmos. Deveríamos perceber que Deus ama homem e mulher em suas diferenças, branco e negro em sua mestiçagem, ricos e pobres em sua alegria própria de ter isto ou não ter aquilo. Por que tem se tornado tão difícil entender que sou santificado a partir do momento em que me percebo pecador? É na minha dificuldade que se mostra o milagre de Deus – não foi assim com Abraão? Com Pedro? Com Raquel? Com a mulher samaritana? Com todos aqueles que se aproximaram de Deus e o conheceram...? Precisamos ler de novo o chamado de Isaías (6,1-8)!
No fundo, no fundo, precisamos reconhecer hoje, em 2014, que nossos lábios e pensamentos impuros mostram que somos mais caretas que o próprio Deus que é Pai...  Ele não julga, nós julgamos; Ele aceita, nós discriminamos; Ele abraça, nós afastamos; Ele chama com laços de amor, nós prendemos com um grande nó de “é desse jeito, senão não é de Deus”. Jesus, a prova de maior amor de um Deus que se ofereceu, diz que tem ovelhas em outro aprisco (João 10,16), nós queremos apenas as ovelhas com lacinhos cor-de-rosa bem amarradinhos.
A caixinha de Deus – se é que Ele a tem – não é a caixa de Pandora, cheia de coisas más e boas, de pré-conceitos e guerras, de indiferenças e desprazeres. Cheia de caretices. Deus é amor que se renova e se atualiza sempre, em mim e em você que lê. Deus é bom. É pai. É amigo. Pra mim e pra você. E para o outro que é completamente diferente de nós. Ele não nos obriga a fazer nada. Precisamos apenas ser nós mesmos e deixá-lo ser Ele mesmo e sentir alegria por isso. Livres. Simples assim.
Que hoje possamos confessar a Deus o quanto somos bem mais caretas do que Ele...!

No Deus que nos ama do jeitinho que somos, 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Faça o que eu digo... e também o que eu faço!

“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo...” (1 Coríntios 11,1)

Conversando certa ocasião com um pastor e amigo presbiteriano, apaixonado por psicologia, deparamo-nos com aquela velha história de “Fulano prega, mas não vive o que prega...”. Coisa mais do que comum nesses dias de teologias tão loucas e esquizofrênicas que nos rodeiam e se multiplicam por aí. “Dissonância cognitiva – esse é o nome desse probleminha”, disse-me meu querido amigo, também capelão da marinha. O que eu não pensava naquela época, é que isso está tão próximo de nós em várias situações pelas quais passamos direta ou indiretamente. E por duas especificamente que me ocorreram nestes últimos dias.
Falando um pouco ainda em clima de copa do mundo, vimos uma seleção de futebol que cumpriu e viveu tudo que anunciou – a Alemanha estrategicamente elaborou um plano de ação, percebeu onde estava falhando, e agora já investe há mais de oito anos em meninos que entram para as categorias de base do futebol, nas quais estes aprendem a ter uma vida disciplinada e íntegra, sem “jeitinhos” de nenhuma espécie. Os meninos cresceram! Desenvolveram-se! Viraram homens sérios e dignos da confiança dos que os rodeavam, principalmente da gente simples de Santa Cruz Cabrália. Resultado: ninguém tem o que falar sobre a equipe que, mais do que qualquer outra, mereceu ser tetracampeã em 2014.
Trazendo outro exemplo à nossa breve conversa, uma semana depois da copa participei de um congresso da SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião –, no qual Fernando Montes Matte, padre jesuíta, teólogo e reitor da Universidade Alberto Hurtado, do Chile, proferiu a primeira conferência, brindando-nos com a seguinte declaração: “A alma do cristianismo não é uma doutrina, e sim um encontro. E este encontro marcante se reflete em nossas atitudes para com o próximo – não era assim com Jesus?...”. O padre passou em revista todo o seu incômodo com as missas em latim que ninguém entendia e mostrou, pelo menos a mim e a quase quinhentas pessoas que o ouviam, sua semelhança com o bom samaritano e seu modo cristão de viver.
A partir dessas duas experiências seguidas, percebi o quanto a igreja, por muito tempo, viveu em dissonância cognitiva e, temerária e infelizmente, ainda vive! O apóstolo Paulo, como citamos acima, já alertava os cristãos de Corinto sobre esta séria questão... e de mãos dadas com ele estava Tiago, quando afirmava que de nada adianta ouvirmos a Palavra se nada praticarmos dela (Tiago 1,22-25) ou, ainda, se a nossa fé não apresentar resultados de amor baseado ‘naquele’ amor que nos alcançou um dia, essa fé tem algo estranho... está morta! Sinceramente, o desejo do meu coração é que possamos de uma vez por todas entender que fala e atitude não são dissonantes, mas duas margens pelas quais precisa correr o rio da nossa existência, o movimento incessante do viver. E possamos sem dor na consciência abrir a boca e dizer: “faça o que eu digo – e o que eu faço também!”


No Deus que diz e faz o que diz, 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Entre “zebras”, perdas e ganhos – clima de copa...


“...mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o SENHOR, que se compadece de ti” (Isaías 54,10b)


            Fico impressionada com as frases de pensamento positivo e de neurolinguística contidas nos jingles compostos aqui para as copas do mundo. Os que acompanharam a seleção de 1958 vão se lembrar de “a taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa...” que está até hoje no inconsciente coletivo de todos nós; e como atualmente não conseguimos nos lembrar de nenhuma música específica para cantar nos jogos, ‘damos um jeitinho’ e aproveitamos uma que é cantada em situações diversas, inclusive (e paradoxalmente!) nas manifestações ‘anti-copa’ desde junho do ano passado: “sou, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!”.
            Não é preciso ter aguçada consciência crítica para perceber que tais jingles servem para levantar a autoestima dos brasileiros e encaminhar a nossa esperança para a vitória do ‘melhor time do mundo’, a fim de alimentar a antiga política do pão e circo nas arenas romanas que estamos acostumados a ver em nosso país. Entretanto, apesar da paixão brasileira pelo futebol, podemos perceber claramente a falta de animação nas ruas não enfeitadas nem pintadas dos subúrbios cariocas, paulistas, baianos,...
            Sobre duas questões podemos começar a refletir aqui, juntos, nesta coluna. A primeira delas é que o povo está tão espoliado que o ‘clima de copa’, assim como um jingle, não vingou. Entre perdas e ganhos, o saldo das primeiras é bem maior do que dos últimos. Econômica e politicamente o povo está cansado. Interessante como isso se reflete na falta de garra dos jogadores brasileiros em campo. O feitiço do ‘pra cima deles’ virou-se contra o feiticeiro e a primeira balançada de rede da copa foi um gol contra de nosso lateral esquerdo, vindo da zaga brasileira. A segunda questão é a quantidade de ‘zebras’ e ‘pequenas vinganças’ dos jogos: a Holanda goleando a Espanha, os Estados Unidos desestabilizando Gana com um gol aos 30 segundos do primeiro tempo, a Alemanha acabando com a ‘pompa’ de Cristiano Ronaldo e de Portugal e por aí vai.  
            Mesmo gostando demais de futebol, digo com toda certeza que, se lêssemos mais a Bíblia, seria tão melhor a nossa vida e tão mais crítica a nossa consciência!... Posso elencar algumas coisas como lembretes, fazendo um link com o que eu disse até aqui. É ela que nos ensina, através da vida e da visão dos profetas, a examinar com cuidado a sociedade à nossa volta. Leia atentamente e perceba como estão envolvidos politicamente Jeremias, Isaías, Amós, Habacuque e Miqueias. O modo como denunciam a corrupção dos governantes contra o povo e o sofrimento deste. A Bíblia também adverte a não confiarmos em nós mesmos, em nossa força, a não ‘entrar em campo de sapato alto’, mas a depositarmos nossa confiança naquele que é forte, justo e todo poderoso – o Senhor dos Exércitos, o rei da glória do Salmo 24, aquele que humilha os exaltados e exalta os humilhados. Uma terceira coisa é a ‘zebra’ que por várias vezes acontece no Antigo Testamento, mas vamos citar aqui apenas duas bem conhecidas – a vitória do jovem Davi sobre Golias – alguém pelo menos três vezes maior e mais forte do que ele; e o modo como Gideão e trezentos homens ganharam uma batalha contra milhares de inimigos. É, o Senhor, em sua ironia, gosta um bocado de ‘zebras’. Assim como nós.
            Quero fechar esse texto com a palavra de Isaías. Que neste clima de copa, entre perdas, ganhos e “zebras”, possamos ver Deus. Vê-Lo e vivê-Lo em nossa consciência. Refletir sobre nosso país e orar por ele. Confessar o pecado e pedir perdão em nosso nome como faz Daniel no capítulo nove. Profetizar a Sua justiça sobre os erros que temos visto, como fizeram Amós e os demais profetas. E a partir da leitura da Sua palavra, e como resultado prático, entregar a Ele nosso orgulho e pedir que sejamos humildes. Certamente, dessa forma, nos alegramos a despeito dos resultados dos jogos e, acima de tudo, a misericórdia, a paz e a compaixão de Deus não se apartarão de nós.

No Deus que se alegra conosco e em nós. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Quero a fé de Tomé!

“A certeza das coisas que se esperam;
A espera daquilo que não se vê”.
Quero ser um Tomé que não crê
Ou discípulos que apenas a Jesus velam?

Estes trancados estavam – também não criam!
Que o Ressuscitado agora estava ali.
Aos assustados com aquilo que viam,
Jesus dizia: “Sou eu! Ponham o dedo aqui!”

Tomé ainda lá não havia chegado
E perguntava aos pensamentos seus:
O que fizeram com o meu Jesus?

Mas ao tocá-lo, sentiu na alma o afago
E – foi o único – logo lhe disse: “Meu Senhor e meu Deus!!”
Admiravelmente venceste a terrível cruz! 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Fé...!

Neste domingo minha classe de Escola Dominical começou a estudar Hebreus 11... digo “começou” porque a proposta pedagógica da classe é estudar um capítulo da Bíblia a cada domingo, o que se tornou impossível com o capítulo conhecido como “a galeria dos heróis da fé”. Confesso que preparei o estudo de todo o capítulo em casa, mas ao compartilhá-lo na classe não consegui passar, na verdade, do versículo 3. Minhas meninas e meus meninos certamente estranharam a Alessandra deste domingo. E a esta altura, você, querido leitor, pode estar se perguntando: por que a impossibilidade de falar sobre fé? A quem conhece o livro de Hebreus, o capítulo 11 não é um dos mais difíceis do livro, e a quem me conhece pessoalmente, sabe o quanto venho convivendo com a Bíblia em minha vida devocional e acadêmica por quase 20 anos e como gosto de ensinar. Mas fiquei com a voz embargada e a garganta engasgada diante do texto, que me fez refletir sobre tudo que estudei em minha vida até hoje.

A questão crucial e única e que quero compartilhar aqui é: não se estuda sobre fé, fé é experiência! E só se pode falar de fé se se tem “a certeza das coisas que se esperam, e a convicção de fatos que não se veem” (Hb 11,1). Eis a questão. Como posso acreditar naquilo que não estou vendo? E como esperar por aquilo que não aconteceu ainda? Isso não é naturalmente  possível a quem sente a dor e a delícia de ser feito de carne e osso. Aí está a beleza do que Deus fez e faz por nós, em nós e conosco: a fé é parte do fruto do Espírito (Gálatas 5,22-23) e é dom de Deus (Efésios 2,8)! É o próprio Deus que tem misericórdia de mim e de você e nos enche de fé! É somente através Dele que eu posso crer no amanhã – em um amanhã maravilhoso em que toda lágrima se converterá em sorriso, a doença em saúde, a escuridão em luz.
E depois de chorar, estar doente e me sentir em trevas, passarei a valorizar os momentos especiais em que a transformação na qual eu mesma não acreditei acontecerá. Mas uma pontinha de mim – lá onde o Espírito Santo habita – no fundo acreditou, mesmo que não visse nem esperasse naturalmente. Isto porque eu sou natural, mas a fé, esta sim, é sobrenatural, é presente de Deus em mim e pra mim. E o é em você e pra você também! Neste domingo, só estas experiências doloridas e seu desfecho completamente inesperado e inusitado me permitiram ministrar a aula e deixar gente cheia de fé falar e compartilhar sua vida e suas experiências de alegria, cura e luz! Não foi assim com o Abraão que sobe triste o monte Moriá e desce de lá feliz da vida com Isaque? E o que ele dizia enquanto subia ao lado do filhinho? O Senhor pro-verá! E o texto hebraico nos mostra exatamente que Abraão estava falando de fé: O Senhor já viu antes o que vai acontecer! (Gênesis 22). Esta é a experiência de fé de Abraão – crer no Deus que vê, antes de acontecer.
Que possamos continuar, a cada dia, com a voz embargada ao falar de fé, sabendo que ela não vem de nossa razão, mas de sermos tocados por aquela linda experiência que só nós sabemos como, quando e onde passamos!

No Deus que pro-vê em nossa vida, 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Um doce cordeiro – e a Páscoa se fez!

Momento agradável e delicioso aos chocólatras de plantão é passar em frente às lojas nestes dias que antecedem à Páscoa! Sinceramente não estou aqui para criticar o mercado de chocolates em alta, até porque a mesa da Páscoa judaica também possui uma sobremesa e há chocolates ou outros doces para as crianças da família – o que torna mais alegre e festivo o momento comemorativo de Pessach (=passagem), narrado no Antigo Testamento: a passagem do Anjo da morte e o livramento do povo de Deus no Egito através do sangue do cordeiro, aspergido nos umbrais das portas de suas singelas casas de escravos.  
Acontece mais ou menos assim esse ‘doce’ momento: há uma sobremesa chamada afikoman – uma espécie de biscoito sem fermento, que é quebrada em pedaços e escondida pela casa pelo pai da família, e que deve ser encontrada pelas crianças. Ao encontrar os pedacinhos, cada criança recebe em troca um chocolate – ou outro doce à sua escolha. Tudo isso acontece durante a refeição da Páscoa, com aquela cena tradicional dos adultos comendo e conversando, e as crianças correndo pela casa... cenas mais do que doces de se ver – muito mais do que as vitrines cheias de ovos e caixas de bombons de todos os tipos e tamanhos.
Um fato interessante é que a celebração da Páscoa judaica só acontece e se inicia por causa de uma pergunta feita por uma das crianças ou jovens da casa e que será respondida pelo pai: Por que estamos aqui comemorando? O que significa isto que estamos fazendo? E o relato do Êxodo 12 mais uma vez é contado: “éramos escravos no Egito, mas fomos salvos da nossa morte pela morte do cordeiro, o qual deu o seu sangue para ser passado em nossas casas. Assim, e por causa do sangue, estamos aqui vivos para comemorar!”
Fico imaginando a carinha das crianças ouvindo essa cena sem entender muito bem, mas se acostumando com o relato que será contado todos os anos na data marcada. E é aí que está nossa reflexão para este momento: mesmo que compremos chocolates para aqueles que amamos e comamos uma deliciosa refeição juntos no domingo da Páscoa de Jesus, é preciso compartilhar porque estamos ali – isso é o centro e a causa de todo esse momento! Em Jesus o cordeiro se fez e salvou não só os que estavam escravos no Egito, mas a todos os que creem neste ato gracioso do Seu amor (João 1,12). Se eu e você acreditamos no sangue que Jesus derramou na cruz por amor a nós, somos salvos de nossa morte!
Essa é a boa notícia – e é preciso compartilhar, por tão boa que é: o evangelho de Jesus, sua morte e também o fato de não continuar morto: a sua ressurreição! Que nesta Páscoa, possamos perceber que o amor de Deus ao enviar seu Filho querido para se tornar cordeiro em nosso favor é a melhor coisa que aconteceu em nossa vida! E se assim é, nada melhor do que comemorar (=comer e relembrar contando) esse ato lindo de Jesus, nosso doce cordeiro, num delicioso almoço em família e por que não – tendo chocolate de sobremesa?
Feliz Páscoa!!!

No Deus que se fez cordeiro, 

domingo, 9 de março de 2014

Mulher, mulher...


“Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda. Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas”. Assim começa a letra de uma música do cantor Erasmo Carlos, que parecia conhecer muito bem a descrição da mulher forte – a virtuosa – que encerra o livro de Provérbios. A Bíblia diz que o valor dessa mulher é inigualável. Mulher comum e trabalhadora, dona de si, casada e mãe e com jornada dupla ou até tripla, encontrada nos quatro cantos do Oriente Antigo, bem antes de se pensar em revolução sexual. E por ser assim tão forte, o coração do seu marido confia nela e, junto com seus filhos, este homem tem esta mulher como digna de louvor.
Não estou aqui para falar de 8 de março de 1857 – do episódio que não sabemos mais se é história ou lenda – em que as mulheres que lutavam por seus direitos foram queimadas a fim de serem caladas. O fato é que a mulher que luta com a dor e a delícia de ser quem é já se encontra na Antiguidade judaica muito bem retratada no Antigo Testamento desde o Gênesis. É pela sua diferença que o homem se encanta – e pela sua força que se apaixona e com ela resolve compartilhar sua caminhada. Se não fora assim, nunca teria comido das suas mãos o fruto que o próprio Deus disse para não comer.
E nesse caminho vemos mulheres resignadas como Sara e Agar – fortalezas puras que sustentam Abraão em sua caminhada com um Deus que ele não conhece direito. Rebeca, que devolve o sorriso ao coração e à face de Isaque. Raquel, que faz o mesmo com Jacó, apesar deste ter mais três mulheres em sua vida. Passam-se os patriarcas, homens cheios de dificuldades e fraquezas que só são patriarcas porque tiveram ao seu lado matriarcas – também com suas questões e senões – que os ampararam.
O libertador Moisés tem uma Zípora ao seu lado. A história do povo de Deus segue. E o texto sagrado faz questão de apontar determinados fatos que não deveriam passar em branco. Em vez de dizer que a Bíblia é machista, será que já paramos para pensar em um Baraque que diz a Débora: “Eu só vou ao campo de batalha se você for comigo”? E em uma Jael que determina a vitória desta batalha porque crava uma estaca no comandante inimigo? O que pensar de protagonistas de histórias da vida real como Noemi e Rute, a amarga e a doce, que superaram suas rixas entre sogra e nora e lutaram com todas as forças pela manutenção de suas vidas e do nome da família? E Ester, que mantida pelo jejum das suas moças, entrou corajosamente na presença do rei e manteve não só sua família viva, mas todo o seu povo?
Sinceramente é difícil entender o alarde que se faz pelas conquistas da mulher nos séculos XX e XXI – era só ler a Bíblia! A mulher sempre foi batalhadora e conquistadora. E não é apenas em Jesus que a valorização da mulher se dá. O Senhor apenas continua o que se fazia comumente – olhar a mulher como força e coragem revestida de doçura. Paradoxal? Sim, nós mulheres somos exatamente isso. Choramos quando se deveria rir. Encaramos de frente quando se deveria recuar. Bem antes de Jesus e de Paulo, Davi já vira isso em Abigail, a mulher do louco Nabal. E rapidinho tomou-a como esposa e conselheira assim que ela enviuvou.
Passemos à outra banda. O Novo Testamento, na instrumentalidade dos evangelistas mostra Jesus sendo acompanhado, adorado e sustentado até financeiramente por mulheres – lá estão Joana, mulher de Cuza e Susana, e tantas outras (Lc 8,3) que não me deixam mentir. Maria que escolheu a boa parte – ficar quietinha ouvindo o Senhor. Marta que escolheu a seu melhor modo servi-Lo – dando duro. A esta Jesus disse que veria a glória de Deus!
Jesus até se deixa vencer por uma mulher! A siro-fenícia ganhou dele o elogio acerca de sua fé e foi tratada com dignidade. A samaritana também, maravilhada, conseguiu ter vez e voz, e conversou com Jesus sobre seu problema emocional que a levava a ir buscar água no sol escaldante do meio-dia e, curada, ainda arriscou um dedo de prosa sobre adoração – assunto sério sobre o qual não se vê Jesus conversando com mais ninguém em todos os Evangelhos. A Madalena tinha todos os motivos do mundo para se envergonhar, mas nem quis saber do seu passado e passou a seguir o Senhor – até a Sua morte. Quem mais estava lá no sepulcro? Quem teve coragem a este ponto? É a pergunta que cala e grita...
O grande escritor de pelo menos 12 cartas do Novo Testamento continua mostrando o valor da mulher, que excede em muito os rubis. Às mulheres Paulo agradece por ter sido cuidado. Às mulheres ele confia a liderança, ao lado dos homens, das novas comunidades de fé formadas. Priscila está ao lado de Áquila. Febe no mesmo patamar de Timóteo. Para Paulo – e para Deus – “não há judeu, nem grego, nem servo, nem livre, nem homem, nem mulher”– diferentes entre si, mas iguais em seus direitos – “porém todos são UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
Depois deste ‘passeio rápido’ por mais de seis mil anos de história, um fato pode começar a ficar claro ou ser ponto de nossa reflexão diária a partir de hoje, e não só nos “dias internacionais da mulher” dos próximos anos: em vez de querermos ser iguais, somos diferentes dos homens, e temos o direito de sê-lo. E temos direito de termos nossos direitos garantidos exatamente porque somos diferentes. Esta é a luta da mulher de Provérbios (31,10-31). Em sua diferença, ela se aproxima. E se torna uma com o homem. Força, vigor, coragem e ternura. É a reiteração do relato da criação: “Macho e fêmea os criou” (Gn 1,27). Complementares e no mesmo patamar. Fato louvável e profundamente respeitado por Deus e tão demonstrado em Sua Palavra.
Feliz dia de hoje. Feliz todos os dias de nossas vidas.




sábado, 22 de fevereiro de 2014

Deus (e amigo!) da minha vida

Não, não é plágio de letra de música gospel e nem pretendo fazer uma paráfrase com partes da mesma... O que gostaria de compartilhar com você, leitor, desta vez, é resposta a uma constatação que tive esta semana a partir de algo que ouvi de alguém que me é próximo.
Eis a pérola: “nossa, você tem tantos homens em sua vida!!”. Minha primeira reação foi rir e depois pensar se a pessoa queria me atingir de alguma forma. Passadas as duas primeiras coisas – a reação e o pensamento –, me dei conta de quantos amigos – e amigas!!! – Deus tem posto em minha caminhada para me ajudarem ao longo de tantas lutas e dificuldades por que passei nos últimos anos. Amigos e amigas preciosos que foram usados por Deus pra me mostrar quão humana eu sou e cheia de limitações, amigos e amigas que se tornaram mais que irmãos na faculdade, na igreja, no trabalho, na ‘vida louca vida’ da produção acadêmica,... amigos e amigas que todos os dias fazem o sol brilhar mais forte, a música ser mais harmoniosa, o doce ser mais gostoso, a vida ser mais bela e os problemas serem mais fáceis de lidar. Amigos e amigas que me ensinam a Bíblia e descortinam suas páginas na minha frente de um modo tão bonito com suas próprias vidas – e alguns deles nem a leem...
No fim de tudo isso, vejo um amigo que não é de carne e osso, mas me faz sentir sempre amparada e grata por tudo que me ensina e também me toma no colo da sua presença todos os dias – o Espírito Santo, Deus gracioso. O mesmo que é o único capaz de me dar paz no meio da situação mais bélica que eu possa enfrentar, de me dar alegria quando a tristeza insiste em bater à porta querendo entrar, de me dar o conselho certo – e de graça e por graça – quando não sei bem o que fazer e me enfio na introspecção de minha própria concha me afastando um pouquinho dos amigos e amigas... que acabam por entender esses meus momentos que todo mundo tem, que o Eclesiastes chama de “tempo de afastar-se de abraçar”.

O Deus da minha vida é o mesmo que vem se desvelando a mim há algum tempo em Sua humanidade tão humana, em Sua sensibilidade tão divina, em Seu colo tão maternal, em Seu ombro tão amigo... Ele é o mesmo Deus a quem Abraão chamou de amigo e me dá a mim e a você esta oportunidade hoje, não virtual, mas tão real! É o Deus que põe gente boa na nossa vida e a gente nem agradece por isso... sim, hoje é dia, a despeito de quem eu sou, meus defeitos e qualidades, vitórias e vicissitudes, de dizer: Obrigada, Deus e amigo da minha vida, pelos muitos homens e mulheres que puseste para compartilhar a caminhada comigo, pois como disse Samuel ao seu Deus-amigo, após uma grande batalha, mais de mil anos antes de Cristo, diante dos amigos que lhe preservaram a vida: “Até aqui nos ajudou o Senhor”. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Planos para 2014!


Fazer algo novo ou diferente, iniciar ou retomar uma dieta, melhorar a qualidade de vida, mudar o visual, voltar a estudar... algum desses itens faz parte de seu planejamento para 2014?
Assim como inicio esta coluna de forma bem objetiva, o profeta Jeremias categoricamente aponta a objetividade de Deus quanto aos acontecimentos marcados – ou não – em Sua agenda para o povo em pleno cativeiro babilônico no século VI a.C. e também hoje – 2014 – para a minha e para a sua vida:

“Eu é que sei os planos que tenho para vós – planos de paz, e não de mal – para vos dar o fim que desejais” (Jeremias 29,11).


Talvez os planos de Deus para nossa vida em 2014 não tenham nada a ver com nenhum dos projetos acima citados, entretanto podem ser planos que nos façam tão bem a ponto de renovar-nos o corpo, a alma, o espírito. Afinal de contas, se um dia declaramos perante a comunidade de fé que frequentamos que Jesus Cristo passou a ser Senhor de nossas vidas, “soltamos o cabo da nau” e demos a Ele o poder de segurar o timão da embarcação de cada um de nós, bem como de acalmar as tempestades que possam surgir ao singrarmos o mar que se nos apresente no decorrer deste novo ano que se inicia.

Os planos de Deus para mim me levaram a uma aventura dúbia – uma viagem à Bahia e outra viagem no mais recôndito lugar de mim mesma. Aprendi a ter olhos para ver e ouvidos para ouvir tão enfaticamente encontrados nas palavras de Jesus! Percebi de modo novo a criação – desde a beleza e o canto diferenciados de cada pássaro, até os anseios e alegrias únicos de cada nova pessoa que conheci. Aprendi quão importantes são as pessoas das quais me despedi e com as quais não convivi em minhas férias. Aprendi o valor de acarinhar cotidianamente e manter vivo dentro de mim o fruto do Espírito de Gálatas 5,22-23 diante dos quais não se devem colocar limites: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, domínio próprio”. Sim, aprendi que preciso aprender muito mais. As palavras da didática maiêutica de Sócrates presente nos diálogos de Platão calaram e gritaram dentro em mim: “Só sei que nada sei”.

Ouvi de alguém que me é muito caro: “Desconheço a Alessandra com a qual estou falando...” – é, a que foi não é a mesma que voltou, reconheço. Eu mudei. Permiti-me a isso. Entreguei meu duro fardo de ser a dona de minha própria vida e meu pesado jugo de fazer meus próprios planos e minha própria agenda a Cristo – coisa que aprendi deve ser feita frequentemente – e me deixei levar não pela vida, como diz a música, mas pelas doces mãos de um Deus amoroso que me mostrou onde eu precisava mudar, o que deveria fazer, o que necessitava urgentemente deixar para trás, a exemplo da capa do (ex-)cego Bartimeu. Algumas coisas foram bastante difíceis. Outras doloridas. Mas a satisfação de olhar no espelho e ver que as rugas de pré-ocupação com aquilo que efetivamente não dependia de mim resolver sumiram! – e, vamos combinar, mulheres, não há nada melhor para nós do que uma ou duas rugas desaparecerem de nosso rosto como por um passe de mágica! O segredo? Meu olhar mudou. A paz que excede todo o entendimento invadiu meu 2014 e trouxe uma sustentável – e sustentada – leveza no meu ser.

Os planos de paz de Deus para mim e para você neste ano que já vai levando janeiro são diários e cabe a nós aceitarmos ou não a proposta divina de sermos servos e de nos ocuparmos SOMENTE com aquilo que podemos e devemos fazer. No mais, além da acolhida dos Seus planos para nós registrada em Jeremias, fica a receita de apenas dois ingredientes do Salmo 37,5: “(1)Entrega o teu caminho ao Senhor, (2)confia nele e o mais ele fará”. Feito isto, aguardemos os comentários resultantes do aceitarmos e colocarmos em prática os planos de paz de Deus para nós: “Puxa, como você está diferente! Está mais jovem, mais bonito(a)!!”. Como resposta, vai uma máxima – não minha, mas do sábio autor dos Provérbios (15,13a) – que podemos utilizar: “O coração alegre aformoseia o rosto”.

Não nos deixemos à sorte da vida e do ritmo tão agitados do século XXI que desvela mais do que nunca o tão antigo mito grego de Chronos (o Tempo) que engole avidamente seus próprios filhos. Permitamo-nos, sim, a sermos felizes e a termos paz em Deus e com Deus em 2014, 2015, 2016,... É só deixar que Ele nos fale ao coração o que quer de nós, ouvir e cumprir. Simples assim. Feliz 2014!

No Deus que se fez gente e nos dá paz,
Alessandra Viegas.