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domingo, 9 de março de 2014

Mulher, mulher...


“Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda. Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas”. Assim começa a letra de uma música do cantor Erasmo Carlos, que parecia conhecer muito bem a descrição da mulher forte – a virtuosa – que encerra o livro de Provérbios. A Bíblia diz que o valor dessa mulher é inigualável. Mulher comum e trabalhadora, dona de si, casada e mãe e com jornada dupla ou até tripla, encontrada nos quatro cantos do Oriente Antigo, bem antes de se pensar em revolução sexual. E por ser assim tão forte, o coração do seu marido confia nela e, junto com seus filhos, este homem tem esta mulher como digna de louvor.
Não estou aqui para falar de 8 de março de 1857 – do episódio que não sabemos mais se é história ou lenda – em que as mulheres que lutavam por seus direitos foram queimadas a fim de serem caladas. O fato é que a mulher que luta com a dor e a delícia de ser quem é já se encontra na Antiguidade judaica muito bem retratada no Antigo Testamento desde o Gênesis. É pela sua diferença que o homem se encanta – e pela sua força que se apaixona e com ela resolve compartilhar sua caminhada. Se não fora assim, nunca teria comido das suas mãos o fruto que o próprio Deus disse para não comer.
E nesse caminho vemos mulheres resignadas como Sara e Agar – fortalezas puras que sustentam Abraão em sua caminhada com um Deus que ele não conhece direito. Rebeca, que devolve o sorriso ao coração e à face de Isaque. Raquel, que faz o mesmo com Jacó, apesar deste ter mais três mulheres em sua vida. Passam-se os patriarcas, homens cheios de dificuldades e fraquezas que só são patriarcas porque tiveram ao seu lado matriarcas – também com suas questões e senões – que os ampararam.
O libertador Moisés tem uma Zípora ao seu lado. A história do povo de Deus segue. E o texto sagrado faz questão de apontar determinados fatos que não deveriam passar em branco. Em vez de dizer que a Bíblia é machista, será que já paramos para pensar em um Baraque que diz a Débora: “Eu só vou ao campo de batalha se você for comigo”? E em uma Jael que determina a vitória desta batalha porque crava uma estaca no comandante inimigo? O que pensar de protagonistas de histórias da vida real como Noemi e Rute, a amarga e a doce, que superaram suas rixas entre sogra e nora e lutaram com todas as forças pela manutenção de suas vidas e do nome da família? E Ester, que mantida pelo jejum das suas moças, entrou corajosamente na presença do rei e manteve não só sua família viva, mas todo o seu povo?
Sinceramente é difícil entender o alarde que se faz pelas conquistas da mulher nos séculos XX e XXI – era só ler a Bíblia! A mulher sempre foi batalhadora e conquistadora. E não é apenas em Jesus que a valorização da mulher se dá. O Senhor apenas continua o que se fazia comumente – olhar a mulher como força e coragem revestida de doçura. Paradoxal? Sim, nós mulheres somos exatamente isso. Choramos quando se deveria rir. Encaramos de frente quando se deveria recuar. Bem antes de Jesus e de Paulo, Davi já vira isso em Abigail, a mulher do louco Nabal. E rapidinho tomou-a como esposa e conselheira assim que ela enviuvou.
Passemos à outra banda. O Novo Testamento, na instrumentalidade dos evangelistas mostra Jesus sendo acompanhado, adorado e sustentado até financeiramente por mulheres – lá estão Joana, mulher de Cuza e Susana, e tantas outras (Lc 8,3) que não me deixam mentir. Maria que escolheu a boa parte – ficar quietinha ouvindo o Senhor. Marta que escolheu a seu melhor modo servi-Lo – dando duro. A esta Jesus disse que veria a glória de Deus!
Jesus até se deixa vencer por uma mulher! A siro-fenícia ganhou dele o elogio acerca de sua fé e foi tratada com dignidade. A samaritana também, maravilhada, conseguiu ter vez e voz, e conversou com Jesus sobre seu problema emocional que a levava a ir buscar água no sol escaldante do meio-dia e, curada, ainda arriscou um dedo de prosa sobre adoração – assunto sério sobre o qual não se vê Jesus conversando com mais ninguém em todos os Evangelhos. A Madalena tinha todos os motivos do mundo para se envergonhar, mas nem quis saber do seu passado e passou a seguir o Senhor – até a Sua morte. Quem mais estava lá no sepulcro? Quem teve coragem a este ponto? É a pergunta que cala e grita...
O grande escritor de pelo menos 12 cartas do Novo Testamento continua mostrando o valor da mulher, que excede em muito os rubis. Às mulheres Paulo agradece por ter sido cuidado. Às mulheres ele confia a liderança, ao lado dos homens, das novas comunidades de fé formadas. Priscila está ao lado de Áquila. Febe no mesmo patamar de Timóteo. Para Paulo – e para Deus – “não há judeu, nem grego, nem servo, nem livre, nem homem, nem mulher”– diferentes entre si, mas iguais em seus direitos – “porém todos são UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
Depois deste ‘passeio rápido’ por mais de seis mil anos de história, um fato pode começar a ficar claro ou ser ponto de nossa reflexão diária a partir de hoje, e não só nos “dias internacionais da mulher” dos próximos anos: em vez de querermos ser iguais, somos diferentes dos homens, e temos o direito de sê-lo. E temos direito de termos nossos direitos garantidos exatamente porque somos diferentes. Esta é a luta da mulher de Provérbios (31,10-31). Em sua diferença, ela se aproxima. E se torna uma com o homem. Força, vigor, coragem e ternura. É a reiteração do relato da criação: “Macho e fêmea os criou” (Gn 1,27). Complementares e no mesmo patamar. Fato louvável e profundamente respeitado por Deus e tão demonstrado em Sua Palavra.
Feliz dia de hoje. Feliz todos os dias de nossas vidas.