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quinta-feira, 28 de março de 2013

Um poema para a Páscoa... marca indelével de Jesus humano em mim


  Indelével
(Alessandra Viegas)

Quero dizer o não-dito
Escrever o não-escrito
E criar uma episteme do ágape
Algo novo que more em um não-lugar
Será uma antropologia da super-modernidade?
Ou algo que está presente desde sempre na humanidade?

Não posso provar o que quero dizer
Nem com cortes epistemológicos
Nem com algum tipo de lobotomia ou de dissecação
Somente com jogos de linguagem
Posso descrever um que morreu de paixão
Por quem não merecia...
Tragédia insólita esta!

Que me aproximem da representação clássica
O que posso re-interpretar no meu hoje
Mas esse autor que escreveu tal história
Realmente não posso conhecer
Transcende-me em minha imanência, experiência... ausência!
Não me permite tocá-lo nem classificá-lo como meu desejo humano gostaria...

Estou desafiada pelos limites da minha interpretação
Pelo limiar do meu pensamento
Porque nem chego a ser um lector in fabula
Da obra tão aberta que ele fez!
Ao mesmo tempo, me vejo, me insiro e me transbordo
O Para-si torna-se Em-si em mim...

Talvez um dia consiga compreender em tempo refigurado
O que ele prefigurou
Configurou
E me amou ricoeurianamente.
Transfigurado se fez
Não há inter-pretium para tal fato!
Acampado e acompanhante em todo o tempo

Calam-se os poetas
Emborcam-se os tubos de ensaio
Multiplicam-se os não-ditos e os não-provados cientificamente
A vida se fez após a morte! Como explicar tal sorte?
Tractatus que me desculpe, mas o silêncio é fundamental

quarta-feira, 27 de março de 2013


É muito difícil não me manifestar diante da Páscoa – a festa judaica da Libertação e do Amor, refigurada em Jesus, que foi judeu, pobre, minoria e que criou sua própria via de viver... a mais marcante manifestação de alguém que tem convicção do que diz e morre por quem ama...


Em seu livro, A Revolução do Amor, Luc Ferry nos diz já no primeiro parágrafo que este sim – o amor, presente em tudo que fazemos – deve ser objeto de estudo no meio acadêmico, porque toca profundamente a nossa vida para que sejamos alguém melhor e façamos algo melhor. Algo de bom.  Lendo-o, reafirma-se em mim o incômodo diário: não entendo como foi obscurecida a imagem de um Deus que ama, através da hermenêutica medieval, e foi corroborada no século das Luzes, que deveria, como momento iluminado que foi, voltar a iluminá-la e esclarecê-la, trazendo um ideal de igualdade, liberdade e fraternidade proposta no Genesis – macho e fêmea os criou...
É estranha a maneira como gente que estuda e tem coragem de falar da vida de Jesus – o cara que andou com todos os marginalizados de sua época, que não estava nem aí para o que os outros iam pensar acerca disso – faz coisas inacreditáveis e odiosas que deixariam o próprio Jesus envergonhado hoje... Jesus morreu por um ideal e, sinceramente, estamos muito longe disso: AMAR. Às vezes fico pensando o que meus alunos de Teologia andam ouvindo e dizendo por aí, senão bater um papo sobre um texto que não pode acorrentar as pessoas, e sim libertá-las: do preconceito, do olhar com ódio, do julgar os outros... caramba, Jesus fazia exatamente o contrário! Por que é tão difícil entender isso? Perdoem-me o trocadilho, mas eu não estou falando grego! O Amor é sagrado... por isso a Bíblia é sagrada...
O fato de não fazer referência a nenhum texto bíblico aqui é proposital – sinceramente, tenho visto gente que está tão próxima do ideal de Jesus e não lê a Bíblia – e talvez não leia porque já lhe conhece a essência... e se ler, e quando ler, vai ver seu rosto refletido ali junto a um rosto comum e sofrido de um cara (que foi gente!) e marcou essa gente que quis registrar o encontro com ele... não estou romantizando – conheço um pouco os problemas de crítica textual e os jogos de poder que envolvem os séculos I-III, mas acredito em um Deus que ama a todos e que não julga ninguém, um Deus que me dá orgulho de escrever seu nome com letra maiúscula porque ele não me propõe guerras, mas amor e paz.... a despeito dos óculos bélicos e preconceituosos com que leem o mesmo texto que eu leio todos os dias e que me ensina que não devo fazer acepção de pessoas, que o humano do humano que eu e você somos é tão bonito... não importam a aparência que temos ou as escolhas que fazemos.
TENHA UMA FELIZ PÁSCOA. TODOS OS DIAS.