“Sede meus
imitadores, como também eu sou de Cristo...” (1 Coríntios 11,1)
Conversando certa ocasião com um pastor
e amigo presbiteriano, apaixonado por psicologia, deparamo-nos com aquela velha
história de “Fulano prega, mas não vive o que prega...”. Coisa mais do que
comum nesses dias de teologias tão loucas e esquizofrênicas que nos rodeiam e
se multiplicam por aí. “Dissonância cognitiva – esse é o nome desse probleminha”,
disse-me meu querido amigo, também capelão da marinha. O que eu não pensava
naquela época, é que isso está tão próximo de nós em várias situações pelas
quais passamos direta ou indiretamente. E por duas especificamente que me
ocorreram nestes últimos dias.
Falando um pouco ainda em clima de
copa do mundo, vimos uma seleção de futebol que cumpriu e viveu tudo que
anunciou – a Alemanha estrategicamente elaborou um plano de ação, percebeu onde
estava falhando, e agora já investe há mais de oito anos em meninos que entram
para as categorias de base do futebol, nas quais estes aprendem a ter uma vida disciplinada
e íntegra, sem “jeitinhos” de nenhuma espécie. Os meninos cresceram! Desenvolveram-se!
Viraram homens sérios e dignos da confiança dos que os rodeavam, principalmente
da gente simples de Santa Cruz Cabrália. Resultado: ninguém tem o que falar
sobre a equipe que, mais do que qualquer outra, mereceu ser tetracampeã em
2014.
Trazendo outro exemplo à nossa breve
conversa, uma semana depois da copa participei de um congresso da SOTER –
Sociedade de Teologia e Ciências da Religião –, no qual Fernando Montes Matte, padre
jesuíta, teólogo e reitor da Universidade Alberto Hurtado, do Chile, proferiu a
primeira conferência, brindando-nos com a seguinte declaração: “A alma do
cristianismo não é uma doutrina, e sim um encontro. E este encontro marcante se
reflete em nossas atitudes para com o próximo – não era assim com Jesus?...”. O
padre passou em revista todo o seu incômodo com as missas em latim que ninguém
entendia e mostrou, pelo menos a mim e a quase quinhentas pessoas que o ouviam,
sua semelhança com o bom samaritano e seu modo cristão de viver.
A partir dessas duas experiências
seguidas, percebi o quanto a igreja, por muito tempo, viveu em dissonância cognitiva
e, temerária e infelizmente, ainda vive! O apóstolo Paulo, como citamos acima,
já alertava os cristãos de Corinto sobre esta séria questão... e de mãos dadas com
ele estava Tiago, quando afirmava que de nada adianta ouvirmos a Palavra se
nada praticarmos dela (Tiago 1,22-25) ou, ainda, se a nossa fé não apresentar resultados
de amor baseado ‘naquele’ amor que nos alcançou um dia, essa fé tem algo
estranho... está morta! Sinceramente, o desejo do meu coração é que possamos de
uma vez por todas entender que fala e atitude não são dissonantes, mas duas
margens pelas quais precisa correr o rio da nossa existência, o movimento
incessante do viver. E possamos sem dor na consciência abrir a boca e dizer: “faça
o que eu digo – e o que eu faço também!”
No Deus
que diz e faz o que diz,