“...mas a minha misericórdia não se apartará de
ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o SENHOR, que se compadece
de ti” (Isaías 54,10b)
Fico
impressionada com as frases de pensamento positivo e de neurolinguística
contidas nos jingles compostos aqui
para as copas do mundo. Os que acompanharam a seleção de 1958 vão se lembrar de
“a taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa...” que está até
hoje no inconsciente coletivo de todos nós; e como atualmente não conseguimos
nos lembrar de nenhuma música específica para cantar nos jogos, ‘damos um
jeitinho’ e aproveitamos uma que é cantada em situações diversas, inclusive (e
paradoxalmente!) nas manifestações ‘anti-copa’ desde junho do ano passado:
“sou, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!”.
Não
é preciso ter aguçada consciência crítica para perceber que tais jingles servem para levantar a
autoestima dos brasileiros e encaminhar a nossa esperança para a vitória do
‘melhor time do mundo’, a fim de alimentar a antiga política do pão e circo nas
arenas romanas que estamos acostumados a ver em nosso país. Entretanto, apesar
da paixão brasileira pelo futebol, podemos perceber claramente a falta de
animação nas ruas não enfeitadas nem pintadas dos subúrbios cariocas,
paulistas, baianos,...
Sobre
duas questões podemos começar a refletir aqui, juntos, nesta coluna. A primeira
delas é que o povo está tão espoliado que o ‘clima de copa’, assim como um jingle, não vingou. Entre perdas e
ganhos, o saldo das primeiras é bem maior do que dos últimos. Econômica e
politicamente o povo está cansado. Interessante como isso se reflete na falta
de garra dos jogadores brasileiros em campo. O feitiço do ‘pra cima deles’
virou-se contra o feiticeiro e a primeira balançada de rede da copa foi um gol
contra de nosso lateral esquerdo, vindo da zaga brasileira. A segunda questão é
a quantidade de ‘zebras’ e ‘pequenas vinganças’ dos jogos: a Holanda goleando a
Espanha, os Estados Unidos desestabilizando Gana com um gol aos 30 segundos do
primeiro tempo, a Alemanha acabando com a ‘pompa’ de Cristiano Ronaldo e de
Portugal e por aí vai.
Mesmo
gostando demais de futebol, digo com toda certeza que, se lêssemos mais a
Bíblia, seria tão melhor a nossa vida e tão mais crítica a nossa
consciência!... Posso elencar algumas coisas como lembretes, fazendo um link
com o que eu disse até aqui. É ela que nos ensina, através da vida e da visão
dos profetas, a examinar com cuidado a sociedade à nossa volta. Leia atentamente
e perceba como estão envolvidos politicamente Jeremias, Isaías, Amós, Habacuque
e Miqueias. O modo como denunciam a corrupção dos governantes contra o povo e o
sofrimento deste. A Bíblia também adverte a não confiarmos em nós mesmos, em
nossa força, a não ‘entrar em campo de sapato alto’, mas a depositarmos nossa
confiança naquele que é forte, justo e todo poderoso – o Senhor dos Exércitos,
o rei da glória do Salmo 24, aquele que humilha os exaltados e exalta os
humilhados. Uma terceira coisa é a ‘zebra’ que por várias vezes acontece no
Antigo Testamento, mas vamos citar aqui apenas duas bem conhecidas – a vitória
do jovem Davi sobre Golias – alguém pelo menos três vezes maior e mais forte do
que ele; e o modo como Gideão e trezentos homens ganharam uma batalha contra
milhares de inimigos. É, o Senhor, em sua ironia, gosta um bocado de ‘zebras’.
Assim como nós.
Quero
fechar esse texto com a palavra de Isaías. Que neste clima de copa, entre
perdas, ganhos e “zebras”, possamos ver Deus. Vê-Lo e vivê-Lo em nossa
consciência. Refletir sobre nosso país e orar por ele. Confessar o pecado e
pedir perdão em nosso nome como faz Daniel no capítulo nove. Profetizar a Sua
justiça sobre os erros que temos visto, como fizeram Amós e os demais profetas.
E a partir da leitura da Sua palavra, e como resultado prático, entregar a Ele
nosso orgulho e pedir que sejamos humildes. Certamente, dessa forma, nos
alegramos a despeito dos resultados dos jogos e, acima de tudo, a misericórdia,
a paz e a compaixão de Deus não se apartarão de nós.
No Deus que se alegra conosco e em nós.
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