Essa semana fui ao cinema participar
pelo menos uma vez do Festival do Rio
e, como de costume, chorei bicas durante a passagem dos créditos e das pessoas na
minha frente que não têm o menor interesse em lê-los. Quase todas as vezes que
me exponho à sétima arte, meu coração de manteiga derretida entra em ação, e já
aprendi a conviver com a cara de espanto das pessoas na penumbra das salas de
cinema.
O interessante é que alguma coisa
acontece no meu coração, não no cruzamento mais famoso de São Paulo, cenário há
quase dois meses de um grave problema brasileiro – a má distribuição de renda
unida à falta de moradia nos grandes centros urbanos. Mas dessa vez, o filme a
que assisti me mostrou que tudo à nossa volta é pedra que clama que devemos
fazer da nossa vida alguma coisa que demonstre amor a essa gente tão sedenta de
justiça e paz no terceiro milênio.
O filme tratava de uma fotógrafa
impulsionada pelo desejo de, através de suas fotos, denunciar a maldade, a ganância
e a intolerância crescente e latente ao redor do mundo. O sentimento dela por
justiça feita àqueles a quem não conhecia, mas amava como gente, era tão belo e
profundo, que deixava sua família em suspenso a fim de cumprir sua missão. Fiquei
a pensar no que eu tenho feito através de minha profissão e do que tenho a oferecer
para ajudar meu próximo... será que tenho deixado família e interesses próprios
em favor do Reino de Deus? Tenho entendido o que Deus quer de mim nestes dias
tão difíceis?
Dessa vez minhas lágrimas não
ficaram no banco do cinema. Elas refrescaram meu rosto e minha mente na direção
de fazer alguma coisa. E quero sempre ter a sensação de que tudo que faço ou
farei não é nada comparado ao dom da vida – acordar e saber que mais uma vez o
amor de Deus se manifestou em graça a cada um de nós, a fim de tornarmos mais
um dia O dia! Dia de fazer uma criança sorrir, de ser gentil, de oferecer um
café, de emprestar o ouvido, de ajudar a solucionar um problema, de preparar
uma cesta básica, de dar um abraço grátis, de visitar o enfermo, o órfão, a viúva,
o doído, de viver um evangelho sem palavra, mas recheado de ações...
É urgente o verso de Renato Russo,
que certamente foi iluminado pelas palavras e pela consciência do evangelho de
Jesus quando ele lia a Bíblia – ‘é preciso amar as pessoas como se não houvesse
amanhã, porque se você parar pra pensar...’ que a gente não pare, nem pense! Que
a gente colha o dia (Carpe diem), aproveitando-o ao máximo,
como nos ensinou o poeta latino Horácio (Odes
I, 11.8). Que a gente corra e morra sabendo que nossa vida valeu não a pena, mas
a confiança que Deus pôs em nossas mãos de sermos gente que ama, gente que tem a
estranha mania de ter fé na vida!
No Deus que não se
confina em templos,
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