“Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira
absurda. Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com
elas”. Assim começa a letra de uma música do cantor Erasmo Carlos, que parecia
conhecer muito bem a descrição da mulher forte – a virtuosa – que encerra o
livro de Provérbios. A Bíblia diz que o valor dessa mulher é inigualável.
Mulher comum e trabalhadora, dona de si, casada e mãe e com jornada dupla ou
até tripla, encontrada nos quatro cantos do Oriente Antigo, bem antes de se
pensar em revolução sexual. E por ser assim tão forte, o coração do seu marido
confia nela e, junto com seus filhos, este homem tem esta mulher como digna de
louvor.
Não estou aqui para falar de 8 de março de 1857 – do
episódio que não sabemos mais se é história ou lenda – em que as mulheres que
lutavam por seus direitos foram queimadas a fim de serem caladas. O fato é que
a mulher que luta com a dor e a delícia de ser quem é já se encontra na
Antiguidade judaica muito bem retratada no Antigo Testamento desde o Gênesis. É
pela sua diferença que o homem se encanta – e pela sua força que se apaixona e
com ela resolve compartilhar sua caminhada. Se não fora assim, nunca teria
comido das suas mãos o fruto que o próprio Deus disse para não comer.
E nesse caminho vemos mulheres resignadas como Sara e Agar
– fortalezas puras que sustentam Abraão em sua caminhada com um Deus que ele não
conhece direito. Rebeca, que devolve o sorriso ao coração e à face de Isaque.
Raquel, que faz o mesmo com Jacó, apesar deste ter mais três mulheres em sua
vida. Passam-se os patriarcas, homens cheios de dificuldades e fraquezas que só
são patriarcas porque tiveram ao seu lado matriarcas – também com suas questões
e senões – que os ampararam.
O libertador Moisés tem uma Zípora ao seu lado. A história
do povo de Deus segue. E o texto sagrado faz questão de apontar determinados
fatos que não deveriam passar em branco. Em vez de dizer que a Bíblia é
machista, será que já paramos para pensar em um Baraque que diz a Débora: “Eu
só vou ao campo de batalha se você for comigo”? E em uma Jael que determina a
vitória desta batalha porque crava uma estaca no comandante inimigo? O que
pensar de protagonistas de histórias da vida real como Noemi e Rute, a amarga e
a doce, que superaram suas rixas entre sogra e nora e lutaram com todas as
forças pela manutenção de suas vidas e do nome da família? E Ester, que mantida
pelo jejum das suas moças, entrou corajosamente na presença do rei e manteve
não só sua família viva, mas todo o seu povo?
Sinceramente é difícil entender o alarde que se faz pelas
conquistas da mulher nos séculos XX e XXI – era só ler a Bíblia! A mulher
sempre foi batalhadora e conquistadora. E não é apenas em Jesus que a
valorização da mulher se dá. O Senhor apenas continua o que se fazia comumente –
olhar a mulher como força e coragem revestida de doçura. Paradoxal? Sim, nós
mulheres somos exatamente isso. Choramos quando se deveria rir. Encaramos de
frente quando se deveria recuar. Bem antes de Jesus e de Paulo, Davi já vira
isso em Abigail, a mulher do louco Nabal. E rapidinho tomou-a como esposa e
conselheira assim que ela enviuvou.
Passemos à outra banda. O Novo Testamento, na
instrumentalidade dos evangelistas mostra Jesus sendo acompanhado, adorado e
sustentado até financeiramente por mulheres – lá estão Joana, mulher de Cuza e
Susana, e tantas outras (Lc 8,3) que não me
deixam mentir. Maria que escolheu a boa parte – ficar quietinha ouvindo o
Senhor. Marta que escolheu a seu melhor modo servi-Lo – dando duro. A esta
Jesus disse que veria a glória de Deus!
Jesus até se deixa vencer por uma mulher! A siro-fenícia
ganhou dele o elogio acerca de sua fé e foi tratada com dignidade. A samaritana
também, maravilhada, conseguiu ter vez e voz, e conversou com Jesus sobre seu
problema emocional que a levava a ir buscar água no sol escaldante do meio-dia e,
curada, ainda arriscou um dedo de prosa sobre adoração – assunto sério sobre o
qual não se vê Jesus conversando com mais ninguém em todos os Evangelhos. A
Madalena tinha todos os motivos do mundo para se envergonhar, mas nem quis
saber do seu passado e passou a seguir o Senhor – até a Sua morte. Quem mais
estava lá no sepulcro? Quem teve coragem a este ponto? É a pergunta que cala e
grita...
O grande escritor de pelo menos 12 cartas do Novo
Testamento continua mostrando o valor da mulher, que excede em muito os rubis. Às
mulheres Paulo agradece por ter sido cuidado. Às mulheres ele confia a
liderança, ao lado dos homens, das novas comunidades de fé formadas. Priscila
está ao lado de Áquila. Febe no mesmo patamar de Timóteo. Para Paulo – e para
Deus – “não há judeu, nem grego, nem servo, nem livre, nem homem, nem mulher”–
diferentes entre si, mas iguais em seus direitos – “porém todos são UM em
Cristo Jesus” (Gl 3,28).
Depois deste ‘passeio rápido’ por mais de seis mil anos de
história, um fato pode começar a ficar claro ou ser ponto de nossa reflexão diária
a partir de hoje, e não só nos “dias internacionais da mulher” dos próximos
anos: em vez de querermos ser iguais, somos diferentes dos homens, e temos o
direito de sê-lo. E temos direito de termos nossos direitos garantidos
exatamente porque somos diferentes. Esta é a luta da mulher de Provérbios
(31,10-31). Em sua diferença, ela se aproxima. E se torna uma com o homem. Força,
vigor, coragem e ternura. É a reiteração do relato da criação: “Macho e fêmea
os criou” (Gn 1,27). Complementares e no mesmo patamar. Fato louvável e
profundamente respeitado por Deus e tão demonstrado em Sua Palavra.
Feliz dia de hoje. Feliz todos os dias de nossas vidas.
Gostei muito dessa parte: "É pela sua diferença que o homem se encanta – e pela sua força que se apaixona e com ela resolve compartilhar sua caminhada. Se não fora assim, nunca teria comido das suas mãos o fruto que o próprio Deus disse para não comer." Lindo texto Alessandra!!!
ResponderExcluirObrigada!!
ExcluirMais lindo é o encontro e o encanto, não é mesmo?