É muito difícil não me manifestar diante da
Páscoa – a festa judaica da Libertação e do Amor, refigurada em Jesus, que foi
judeu, pobre, minoria e que criou sua própria via de viver... a mais marcante
manifestação de alguém que tem convicção do que diz e morre por quem ama...
Em seu livro, A Revolução do Amor, Luc Ferry nos diz já no primeiro
parágrafo que este sim – o amor, presente em tudo que fazemos – deve ser objeto
de estudo no meio acadêmico, porque toca profundamente a nossa vida para que
sejamos alguém melhor e façamos algo melhor. Algo de bom. Lendo-o, reafirma-se em mim o incômodo diário:
não entendo como foi obscurecida a imagem de um Deus que ama, através da hermenêutica
medieval, e foi corroborada no século das Luzes, que deveria, como momento iluminado
que foi, voltar a iluminá-la e esclarecê-la, trazendo um ideal de igualdade,
liberdade e fraternidade proposta no Genesis – macho e fêmea os criou...
É estranha a maneira como gente que estuda e
tem coragem de falar da vida de Jesus – o cara que andou com todos os
marginalizados de sua época, que não estava nem aí para o que os outros iam
pensar acerca disso – faz coisas inacreditáveis e odiosas que deixariam o próprio
Jesus envergonhado hoje... Jesus morreu por um ideal e, sinceramente, estamos
muito longe disso: AMAR. Às vezes fico pensando o que meus alunos de Teologia andam
ouvindo e dizendo por aí, senão bater um papo sobre um texto que não pode
acorrentar as pessoas, e sim libertá-las: do preconceito, do olhar com ódio, do
julgar os outros... caramba, Jesus fazia exatamente o contrário! Por que é tão difícil
entender isso? Perdoem-me o trocadilho, mas eu não estou falando grego! O Amor
é sagrado... por isso a Bíblia é sagrada...
O fato de não fazer referência a nenhum texto
bíblico aqui é proposital – sinceramente, tenho visto gente que está tão próxima
do ideal de Jesus e não lê a Bíblia – e talvez não leia porque já lhe conhece a
essência... e se ler, e quando ler, vai ver seu rosto refletido ali junto a um
rosto comum e sofrido de um cara (que foi gente!) e marcou essa gente que quis
registrar o encontro com ele... não estou romantizando – conheço um pouco os
problemas de crítica textual e os jogos de poder que envolvem os séculos I-III,
mas acredito em um Deus que ama a todos e que não julga ninguém, um Deus que me
dá orgulho de escrever seu nome com letra maiúscula porque ele não me propõe guerras,
mas amor e paz.... a despeito dos óculos bélicos e preconceituosos com que leem
o mesmo texto que eu leio todos os dias e que me ensina que não devo fazer acepção
de pessoas, que o humano do humano que eu e você somos é tão bonito... não
importam a aparência que temos ou as escolhas que fazemos.
TENHA UMA FELIZ PÁSCOA. TODOS OS DIAS.
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